terça-feira, 1 de maio de 2012

A Educação Social em Portugal...

«A Educação Social surge, no mundo actual, como resposta a uma necessidade crescente da intervenção da sociedade na resolução dos problemas sociais e humanos.

A Educação Social é, agregadora de diferentes perspectivas disciplinares e de vários projectos de intervenção. Aproveita, pois, o saber da pedagogia, tradicionalmente, ligada às Ciências da Educação e a experiência no terreno do trabalho social.

Visando assegurar os direitos e deveres dos seres humanos, a Educação Social considera o indivíduo, não por si só, mas olha-o como um ser integrado na sociedade.

Com esta publicação, pretendemos esclarecer não só o conceito de Educação Social, o seu objecto de estudo, como também, o seu campo de acção.

Entende-se por Educação Social um conjunto de experiências e práticas educativas que, contextualizadas em diferentes realidades sociais, pretendem contribuir para o desenvolvimento integral das pessoas e para o bom funcionamento da interacção social. O seu objectivo último é, portanto, o bem-estar do indivíduo, a sua qualidade de vida através da sua integração na sociedade.

Entendemos a sua complexidade se considerarmos que na sua origem estão diversas ciências e saberes, tais como a filosofia e a sociologia, e de diferentes domínios, como o trabalho e intervenção social.

A sua complexidade é ainda mais compreensível se considerarmos o seu objecto de estudo: o indivíduo, em interacção com o meio envolvente.

O papel profissional do Educador Social está longe de conquistar a sua afirmação. Esta é, sem dúvida, um caminho árduo e os desafios que se colocam à sua afirmação são muitos. É, pois,necessário que as Instituições, os Formadores, Utentes, Políticos, Educadores Sociais se lancem num esforço contínuo e sistemático pela dignificação desta profissão, que tanto contribui para o bem-estar das sociedades:
“ La actividad profesional en educación social supone una función pública reconocida y acreditada con la titulación pertinente, que a partir del uso de metodologias y técnicas apropriadas intenta cumplir com la normativa laboral vigente” (2006:7)

A profissão do Educador Social é recente e ainda pouco conhecida. Só nos anos 90 é que se formaram os primeiros educadores sociais com habilitação superior. Com o avançar dos anos, o número de educadores sociais vai aumentando por todo o país, passando estes a serem conhecidos pelas autarquias, instituições e comunidades.

O educador social passa a trabalhar com as diferentes faixas etárias (crianças,jovens, adultos, idosos) e nos mais diferentes contextos sociais, culturais, educativos e económicos. Esta polivalência interventiva favorece a profissão ao nível da empregabilidade, embora dificulte ligeiramente a construção de um conceito profissional facilmente delimitável.

Em resultado de uma série de necessidades sentidas pelos profissionais e com o objectivo de congregar os profissionais dispersos geograficamente, surge o CNES – Conselho Nacional de Educadores Sociais, com o objectivo de lutar pela dignificação desta profissão. Nesse sentido, são criados fóruns, revistas, páginas de internet, entre outras actividades.

Hoje, já bem conhecida do que nos seus tempos iniciais, a profissão de educador social revela ainda um rol considerável de lacunas, quer ao nível da própria carreira profissional (característica de uma profissão “nova”), quer ao nível da relação laboral com as entidades empregadoras.

Estes profissionais lutam pelo reconhecimento da sua intervenção. Pretendem dar a conhecer a multiplicidade de experiências profissionais acumuladas que constituem uma grande riqueza para a sua profissão e, através delas, obterem dignidade para a sua profissão.

Num universo de cerca de 1400 profissionais em Portugal, com a saída para o mercado de trabalho de cerca de 200 novos técnicos por ano, as perspectivas são de evolução e consolidação da profissão no contexto do trabalho socioeducativo em Portugal. Por outro lado, a existência de outros profissionais do âmbito do trabalho social, nomeadamente os Assistentes Sociais e os Animadores Sócio-Culturais tornam necessário a clarificação das funções do Educador Social e a definição, perante a sociedade, do seu campo de acção.

A definição do papel profissional do Educador Social é essencial para a criação do estereótipo que caracteriza a sua profissão.

Os papéis que o educador social pode ter são múltiplos, o que dificulta a construção de uma identidade enquanto técnico especializado. Não podemos esquecer que o educador social, enquanto técnico especializado, tem conhecimentos pedagógicos,técnicos e humanos que o tornam insubstituível na orientação e resolução de muitos problemas sociais. O seu papel educativo é difícil de avaliar pois os resultados demoram e só o tempo pode provar a importância da sua acção. Para que o educador social se sinta motivado na sua tarefa tem que sentir que é reconhecido pela sociedade em geral. Para que este reconhecimento surja, os resultados do trabalho do educador social tem que ser revelados publicamente para que a sociedade comece a reconhecer, a valorizar e a sentir a necessidade da sua intervenção.

De facto, hoje em dia a sociedade é chamada a responsabilizar-se pelos problemas humanos, não podendo continuar a delegar nos sistemas políticos a responsabilidade da resolução dos mesmos. Desta forma, cada sujeito humano tem que ser capaz de conhecer-se a si, aprender a conhecer o Outro, a negociar com ele, pensar, construir consensos, decidir e assumir responsabilidades.

Como refere o Professor José Luís de Almeida Gonçalves, no seu artigo “O educador social, desafiado pela diversidade cultural das sociedades contemporâneas”:

“A reconstrução da identidade pessoal e social (…) é aquela que procura o sentido de si mesma na relação com o Outro, relação esta que precisa de ser educada pelas faculdades da descentração e da empatia, a ponto de integrar a alteridade no centro da perspectiva sobre si mesmo (…)” (2006:111)

É pela observação desta interacção com o Outro que o educador social traça um caminho para a sua acção.

É neste contexto que se pode falar de modelos de intervenção, ou seja, esquemas de acção que derivam da reflexão sobre a realidade. Estes modelos surgem da observação das interacções humanas desenvolvidas num determinado contexto, e da reflexão sobre a acção e exigem pensamento crítico e poder de decisão.

É de todo importante que a partilha de saberes, experiências e ideias seja feita de forma efectiva para que se chegue a um consenso relativamente aos princípios da acção,tendo presente que cada profissional tem a responsabilidade de traçar a sua própria intervenção. Os modelos fornecem indicações de ordem metodológica e prática, mas não seria possível existir um manual de intervenção sócio-educativa, pois este teria que ser permanentemente reescrito por cada profissional de acordo com a sua prática profissional e as suas opções no seu contexto específico. As matrizes metodológicas da prática pedagógico-social terão que ser suficientemente abrangentes e integradoras para abarcar a diversidade de aspectos que caracterizam o contexto com que se depara cada profissional.

Por isso mesmo, o educador social tem que ter presente a necessidade da formação contínua. Através desta formação o educador social deverá ampliar a sua capacidade de análise, alargar os seus interesses e tomar parte nos processos pedagógico-sociais socialização, interacção e comunicação) de forma aplicada. Não podemos esquecer que este realiza funções polivalentes em diversos sectores da sociedade. Ele tem que ser “actor social”, “educador” e “mediador social”.

Assim sendo, o educador social deverá ter a capacidade de reflexão constante antes, durante e após a prática. Deverá desenvolver a sua capacidade para resolver problemas, utilizando técnicas adequando-as ao seu contexto. Para além disso, é essencial que seja capaz de trabalhar em equipa, abrindo novos espaços profissionais.

Como mediador social, o profissional desta área desempenha um papel preponderante na criação de condições de bem-estar à população. Deverá, por isso, alcançar progressivo reconhecimento por parte da sociedade. Esta dignificação só ocorrerá quando a sociedade, ao ser confrontada com os resultados da intervenção destes profissionais, tomar consciência da sua mais-valia.
Referências Bibliográficas:

GONCALVES, José Luís - O educador social, desafiado pela diversidade cultural das sociedades contemporâneas.Cadernos de Estudo. Porto: ESE de Paula Frassinetti. N.º 3 (2006), p.111-118

CARVALHO, Adalberto Dias de, Baptista, Isabel, Educação social – fundamentos e estratégias, Porto, Porto Editora, 2004

SERRANO, Gloria Pérez, Pedagogia social – Educación Social, Construcción Científica e intervención Práctica, Madrid, Narcea, S.A. de ediciones, 2003».

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