segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Educação Social, Escola e Educação...


A necessidade de se definir Educação traduz-se na ideia de que os diferentes conceitos existentes não se podem dissociar dos contextos histórico-filosóficos, para se perceber o seu percurso.

No entanto, educar pressupõe a existência de uma filosofia de Educação, objetivos e de intervenientes, com funções diferentes.

De um modo geral, educar "é um processo que se inicia desde que se nasce, acompanhando o crescimento e desenvolvimento do homem. É um processo contínuo e de relação com os outros". (Dias, 1996, p.7)

Tendo subjacente a dinâmica e dependência do outro e do eu, educar, nas sociedades primitivas consistia em transmitir valores, crenças, costumes e o papel de cada um em sociedade. Estas aprendizagens eram realizadas em família, conjuntamente com a ajuda de outros elementos pertencentes da comunidade.

Do ponto de vista Sociológico, Tavares considera a Educação como uma das formas de transmissão da cultura, "sendo a Escola, que deve ensinar, um dos responsáveis, senão o principal, pelo processo de inculturação que todo o jovem tem obrigatoriamente de frequentar no nosso país, dos cinco/ seis anos até pelo menos aos quinze/ dezasseis anos, ou seja, do 1º ao 9º ano de escolaridade obrigatória, como determina o nº 1 do art. 6º da Lei de Bases do Sistema Educativo". (1998, p.40)

Para Durkhein "A educação é a ação exercida pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo seu meio especial a que a criança, particularmente se destina". (1984, p.89). A primeira característica que ressalta da educação é que ela é uma ação social e não uma ação individual. Ou seja, a educação não é o resultado de uma ação individual entre pai e o filho " educação familiar " ou o professor e o aluno "educação escolar", mas entre duas categorias sociais distintas, a geração adulta e a geração jovem. O adulto age como representante da geração adulta e transmite conhecimentos, atitudes e valores, considerados ajustados ao jovem e este recebe e aprende esses conhecimentos e valores. A segunda característica é que a educação é uma ação global. Tem em vista todos os aspetos da vida social e não apenas alguns. É uma formação global em dois sentidos:

Primeiro do ponto de vista da formação do indivíduo, visa desenvolver-lhe a inteligência, através da aquisição de conhecimentos e métodos de raciocínio e o carácter, através da interiorização de atitudes e comportamentos;

Segundo do ponto de vista da sociedade, a educação visa integrar o jovem na sociedade. A terceira característica é que a educação é uma ação unilateral dos adultos sobre os jovens. Os adultos transmitem atitudes, conhecimentos técnicos, e os jovens recebem, aprendem e incorporam na sua vida esses conteúdos. A geração adulta é o elemento ativo, transmissor da educação e a geração jovem o elemento passivo, recetor. Finalmente, uma última característica da educação é que ela é de natureza unitária e harmónica. Isto resulta do facto de o agente educativo ser um indivíduo ou um grupo específico. Os indivíduos quando educam agem em nome e por delegação da sociedade. É a sociedade que investe os seus membros na função educativa, e os sanciona no respetivo exercício. A educação tem uma dupla função, duplo papel; unificação e de divisão. Por um lado, a educação opera visando uma determinada forma de coesão social; por outro, constitui um agente de reforço da divisão e das estratificações sociais existentes. A educação é múltipla, diversificando-se e orientando-se para cada estrato, no interior de uma classe.

Toda e qualquer definição de Educação devem ser encaradas numa perspetiva global, isto é, como um "facto social total". Daí que, a escola deva ter como base determinada a conceção das relações entre o indivíduo e a sociedade, pelo que a escola deva ser criada para a conservação e o aperfeiçoamento da vida social, que deve ser democrática e cumprir as mesmas regras existentes na sociedade.

O objetivo da Educação é dar à criança a independência, o domínio sobre si e prepará-la para que se adapte às modificações do meio e o saiba transformar, pelo que a Educação, que é exercida pelos adultos sobre as crianças, deva ser feita com o intuito de a modificar e a adaptar à realidade atual.

Porém, a Educação, é atualmente confundida com o ensino, ou seja, com a educação escolar.

Tavares encara o conceito de Educação segundo duas perspetivas:

A primeira diz respeito à relação dos indivíduos com a sua vida social. e a segunda tem a ver com a preparação intelectual do mesmo para ser um fator produtivo na sociedade.

"A educação tem que ser encarada sob dois aspetos complementares de um todo orgânico envolvente tendente a preparar o indivíduo para a sua missão na sociedade (...) Condiciona o comportamento individual ao comportamento do grupo integrando-o nos padrões culturais deste. (...) É o ensino/ aprendizagem, a educação". (1998, p. 34-35)

Para Nérici, "educação é o processo que visa preparar as gerações novas para substituírem as adultas e que, naturalmente, se vão retirando das funções ativas da vida social ". (1984, p. 7). Isto é, a Educação realiza a conservação e transmissão da cultura a fim de haver continuidade da mesma (valores, formas de comportamento social de comprovada eficácia na vida de uma sociedade).

Do ponto de vista biopsicológico, a educação tem por objetivo levar o indivíduo a desenvolver a sua personalidade. Segundo Nérici (1992, p.76), educação "é o processo que visa levar o indivíduo, a explicitar as suas virtualidades e a encontrar-se com a realidade, para na mesma atuar de maneira consciente, eficiente e responsável, a fim de serem atendidas necessidades e aspirações pessoais, sociais da criatura humana".

 

Daí que, a Educação deverá de ajudar o indivíduo a revelar-se como pessoa, preparado para a vida adulta, atuando de maneira eficiente, que lhe proporcione técnicas de atuar que possam multiplicar o produto dos seus esforços.

A educação tem de sensibilizar o indivíduo para os valores sociomorais. O homem moral é aquele que avalia as consequências dos seus atos em sentido profundo de respeito pelo seu semelhante. Segundo Nérici: "O homem que não depreda, mas reflete, admira e constrói. Homem que não atira pedras, mas que as retira por onde se deva passar; que não agride, mas coopera; que não ridiculariza, mas reconhece e estimula; que, no dizer de emersos, não só deixa viver, como ajuda a viver... Enfim, homem que não destrói, mas que, de uma forma ou de outra, constrói". (1992, p.45).

A escola no seguimento da família, acompanhando as diversas mutações de valores, costumes, princípios, ideais e tradições, tem como função primordial formar pessoas, ajudar a família na formação e construção do indivíduo e contribuir também para a sua socialização, quer fornecendo contextos de interações variadas extrafamiliares, quer explicitamente promovendo e otimizando o processo de socialização, como parte do currículo. Assim a Educação assenta no sentido social, no saber fazer, numa contínua reestruturação da experiência de cada um, de modo a partilhá-la com os outros. A escola deverá ainda estar preparada para se ajustar aos gostos, necessidades e carências dos alunos materiais e sentimentais. Porém, a escola, ainda não se encontra preparada para promover um ensino baseado nas relações afetivas entre alunos e professores, em virtude de se encontrar mais inclinada para o desenvolvimento cognitivo.

Deste modo, será lícito afirmar que a escola deva apresentar-se aos alunos como a segunda casa, local onde estes se possam sentir bem, sem medos, receios e com muita satisfação. Por isso, a satisfação, e em última análise, o sucesso dos alunos depende, em grande parte da escola.
 
AUTORA: Sandra Afonso

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